A dificuldade de se arriscar no Norte, explica Raphael Bastos de Medeiros

Paraense foi ao Rio realizar palestra, no Museu do Amanhã, sobre inovação de políticas públicas em negócios rurais sustentáveis na Amazônia.

“Sou formado em Administração e Comércio Exterior. Aos 39 anos, juntei-me a uma associação de combate ao desmatamento na Amazônia que, para alcançar o objetivo, usava o empreendedorismo. Hoje, sou diretor executivo do Centro de Empreendedorismo da Amazônia.”

Conte algo que não sei.

A Lei Federal 11.947 trata do repasse de verba para a compra de merenda escolar, em que o mínimo de 30% tem que ser destinado à agricultura local familiar. Porém, mais de 60% dos municípios da Amazônia não cumprem essa lei. Se ela fosse efetivamente seguida, promoveria desenvolvimento socioeconômico local.

É possível produzir na Amazônia e respeitar a natureza?

A pecuária sempre foi tida como vilã do meio ambiente, mas, hoje, sabemos que existem técnicas que deixam a produção capaz de cumprir o código florestal, manter reservas ambientais e ainda aumentar o lucro em até 6%. É possível, sim, e a gente vai trabalhar para que isso seja replicado.

As pessoas não enxergam a Amazônia como uma oportunidade, e acabam abrindo uma pizzaria, um sushi, uma franquia. A Amazônia é, realmente, a terra das oportunidades. Ela é o Eldorado, mas não da mineração, da extração de madeira, da pecuária extensiva e das hidrelétricas. Ela é o Eldorado do desenvolvimento sustentável, da conexão com negócios rurais, da possibilidade de fazer negócios sociais e lucrativos. A gente não encontra um ambiente tão propício para novos negócios quanto a Amazônia.

Qual é a maior dificuldade que a região enfrenta na produção agrícola?

O grande problema não é não produzir, mas a falta de quem compre os produtos. Em Belém, é mais fácil ver leguminosas de São Paulo do que da própria Amazônia. Muita gente pensa que na região não se produz nada, que é só uma grande área verde. A Amazônia produz muita coisa, e de forma sustentável.

Na maioria dos casos, a prefeitura diz que o agricultor familiar não produz na quantidade necessária, não entrega no prazo, não tem qualidade, que ele é incapaz de emitir nota e de se organizar. Do outro lado, o agricultor diz que não vende porque não sabe o que a prefeitura quer comprar, onde entregar, que tipo de documento apresentar. É um grande desencontro.

Quais as principais diferenças entre a agricultura no Sudeste e no Norte?

O Sudeste é o maior mercado consumidor. Então, produzir aqui é estar de frente para o consumidor final, enquanto que a Região Norte, mesmo sendo a maior parte do território brasileiro, é a menos habitada. A outra diferença é o caráter empreendedor. Não é que ele inexista, mas, lá, é pouco incentivado, principalmente, pela classe média e pelos mais ricos. Há uma dificuldade muito grande em se arriscar pelo Norte.

“Negócios sustentáveis têm que ser lucrativos, mas respeitando o meio ambiente e o social”, explica o administrador

Como criar um negócio sustentável?

Sustentabilidade é usar recursos naturais de forma a deixar que as próximas gerações também os utilizem. Negócios sustentáveis têm que ser lucrativos, mas respeitando o meio ambiente e o social. Não adianta ter fábrica com uma produção economicamente viável e que preserva o meio ambiente, mas que só possui máquinas, sem homens na linha de produção, ou usa mão de obra escrava ou infantil.

POR Annelize Demani

Repost: O Globo

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