De Uganda à Costa do Marfim, a produção da variedade robusta de café está aumentando na África, desafiando as tendências globais em um momento em que os produtores da América do Sul e da Ásia estão lidando com quedas na produção por causa da seca induzida pelo El Niño.

Fonte: Internet
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Uganda, maior produtor de café robusta da África, registrou uma produção recorde de 4,8 milhões de sacas em 2015/2016, ajudada pelos melhores rendimentos. A produção também aumentou na Costa do Marfim, segundo maior produtor da África, alcançando 2,2 milhões de sacas, o maior nível em seis anos.

Isso pode levar a um aumento do retorno aos produtores da África, cuja participação na produção mundial de café vem caindo desde a década de setenta, quando era responsável por 30% da produção global.

À medida que a história se repete nas áreas de produção de robusta de leste a oeste da África, graças às novas plantações e melhores métodos de colheita, a variedade que já foi negligenciada provavelmente sustentará um forte retorno, disseram analistas.

“Mais produtores estão adotando tecnologias modernas de produção. Isso está fazendo uma enorme diferença”, disse o especialista em café de uma das instituições de caridade que trabalham com os produtores africanos para aumentar sua produção Lutheran World Relief, Rick Peyser. “Os produtores estão prestando mais atenção às suas plantações”.

A produção de café robusta na África caiu nos anos noventa e começo dos anos 2000 à medida que pestes e doenças prejudicaram as plantações. As guerras civis e a queda nos preços globais também tiveram um papel nesse declínio. Em 2001, mais de 50% dos cafezais robusta de Uganda foram dizimados. Os produtores da Costa do Marfim, Sudão do Sul e Congo puderam fazer muito pouco para cuidar de suas fazendas em meio aos conflitos.

Porém, alguns produtores, apoiados por instituições de caridade e varejistas de café, nunca desistiram. Agora, a produção está aumentando. O robusta agora representa cerca de 40% da produção total de café da África, mais que os menos de 30% há três anos.

As instituições de caridade, como a Lutheran World Relief continuam treinando os produtores sobre como melhorar seus rendimentos através da adoção de melhores práticas de produção, como tecnologias de retenção de água e melhor manejo pós-colheita.

Gigantes do café, como Starbucks Corp., Nestlé SA e Keurig também fizeram investimentos, formando parcerias com pequenos produtores da Etiópia a Costa do Marfim, à medida que buscavam garantir a oferta de grãos de alta qualidade. No ano passado, a Nespresso começou a comprar grãos robusta do Sudão do Sul pela primeira vez. Essas iniciativas estão sendo pagas na forma de melhor qualidade e volume, de acordo com o analista do banco do oeste da África, Ecobank, George Edwards.

Com maiores rendimentos, os produtores estão lucrando mais com essa variedade, cujo valor por anos ficou atrás dos grãos arábica. Os preços do robusta aumentaram em 5,8% nesse ano devido às secas nas regiões produtoras de café robusta do Brasil, da Colômbia e do Vietnã, além dos atrasos na produção em locais como Indonésia.

Ao mesmo tempo, o fenômeno do El Niño, que gerou seca em outras partes produtoras de café do mundo levou chuvas fortes a países como Uganda, Congo e Sudão do Sul, ajudando a colheita do café.

“Nessa safra, eu ganhei mais dinheiro do que sempre ganho por duas colheitas”, disse o diretor do grupo de cafeicultores da Uganda Central, Imelda Muwonge. “Os preços estão melhores e colhemos mais grãos de café”.

De acordo com o escritório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) na Etiópia, a mudança nos padrões climáticos significaram uma ameaça imediata à indústria de café da África à medida que a temperatura aumenta, mas os grãos arábica são mais vulneráveis, o que pode permitir que o robusta avance.

A África registrou uma colheita recorde de 12,91 milhões de toneladas em 2015/2016, de acordo com dados do USDA, excedendo as estimativas iniciais. As estimativas são de que a produção pode cair para 11,9 milhões de sacas na próxima estação, mas essa ainda seria a segunda maior colheita, atrás somente do recorde de 2015/2016.

“A demanda por grãos da África continua aumentando e acreditamos que nossos produtores estão prontos para o desafio”, disse o presidente da Associação de Cafés Finos da África, Abdullah Bagersh. “Estamos confiantes de que a colheita continuará melhorando”.

As informações são do The Wall Street Journal / Tradução por Juliana Santin 

Fonte: Café Point