Drones Agrícolas: inovação disruptiva para o futuro?

Uso de drones na agricultura é uma realidade que contribui positivamente com o setor.

Imagem: Pixa

O uso de drones na agricultura é uma realidade que contribui positivamente com o setor quando o assunto é pulverização das lavouras e, recentemente, um pequeno assunto, uma pequena ação de Estado, um ínfimo detalhe na condução de transações pode contribuir para o bem, para o mal, para um ambiente inovador ou para um ambiente de negócios retrógrado.

De acordo com Nei Salis Brasil Neto, autor do artigo Drones Agrícolas: uma nova tecnologia para servir ao passado ou uma inovação disruptiva para o futuro? o tema é o uso de Drones para Pulverização Agrícola, coisa de impacto significativo no Setor, que passa por uma consulta pública do Ministério de Agricultura, desde oito de Julho deste ano, por meio da sua Portaria nº 112, que tornou pública sua proposta de maior controle desta tecnologia e de sua consequente atividade econômica.

A ação proposta pelo Ministério da Agricultura, por força de legislação federal e visões de mercado ultrapassadas, traz um aumento drástico da burocracia e do controle do Estado sobre os Drones, uma tecnologia tão presente e necessária nos dias atuais. A ação proposta é uma violência burocrática em tempos em que o Estado brasileiro busca sua modernização e desburocratização.

O Brasil – depois de China, Índia, Estados Unidos e Indonésia – é o quinto país do mundo em produção agrícola, segundo as estatísticas da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), ano-base 2016. É tipicamente detentor, dentre outros recordes, da maior área plantada de soja, café e cana-de-açúcar do globo. Ao mesmo tempo, o Brasil não possui nenhuma de suas empresas figurando no ranking das 100 maiores empresas em valor de mercado no mundo. Como não é novidade, somos o 71º país dentre 141 no ranking de competitividade do Fórum Econômico Mundial,  e o 124º dentre 190 em Facilidade de Fazer Negócios segundo o Banco Mundial. Para entender o que a posição do Brasil nesses rankings significa, basta imaginar que um dos grandes ídolos de nossa nação, Ayrton Senna, em vez de largar e chegar em 1º lugar na temporada de 1991 da Fórmula 1, ele largasse e chegasse em 23º, dentre os 36 participantes. Apesar de ser louvável sua participação, poucas pessoas devem lembrar do 23º colocado.

A dicotomia entre a posição de liderança do Brasil em produção agrícola e a sua posição nos rankings de competitividade não é novidade, mas é de grande valia para o desenvolvimento do problema proposto aqui. Essa diferença deixa claro que a sociedade brasileira ainda não aprendeu a explorar de maneira eficiente tanto seus recursos naturais quanto seus recursos humanos. Ser o 5º país em produção agrícola combinado com a 124ª posição em Negócios apenas demonstra que a sociedade continua explorando seus recursos naturais e a labuta diária de seus cidadãos da maneira mais primitiva e ineficiente possível.

Por quanto tempo mais teremos apenas como fonte de orgulho sermos os primeiros na exploração de nossos recursos, na medição de nossos esforços? Quando aprenderemos a ser os primeiros em eficiência, em resultados, em lucro no setor produtivo? Quantas gerações mais de brasileiros serão obrigadas a trabalhar para o Estado, deixando de trabalhar para si mesmo?

Será que a sociedade já percebeu que a tutela crescente e excessiva do Estado sobre a atitude das empresas e das pessoas inibe a autonomia, corrói, por conseguinte, a sua responsabilidade? Será que o cidadão brasileiro e suas atitudes empreendedoras não merecem mais autonomia? O resultado disso é a desaceleração, cada vez mais forte, da atividade empreendedora das pessoas. Isso joga a nação para as últimas posições dos rankings de competitividade ano após ano. Mas, afinal, o que isso tem a ver com os drones agrícolas? Tudo.

Após um louvável trabalho nos últimos anos da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) e da Força Aérea Brasileira (FAB) para estabelecer as bases para o uso de Drones no Brasil, no último dia oito de julho o Ministério da Agricultura colocou em consulta pública uma peça regulatória para controlar o uso dos Drones na Agricultura. Apesar de tal iniciativa colocar em discussão eventuais pontos técnicos importantes para a proteção das pessoas e do meio ambiente, tal regulação aumenta drasticamente a burocracia, cria diferentes camadas de controle sobre as pessoas e empresas.

O texto proposto adiciona uma “violência burocrática” através de autorizações e registros em âmbito Federal. Estes, inevitavelmente, se combinam com regulações Estaduais e Municipais vigentes. Tal violência burocrática transforma os drones agrícolas em uma nova tecnologia para servir ao passado, ao invés de fazer dos drones uma inovação disruptiva para o Futuro, porque não dizer para o presente. Isso porque não é difícil identificar que as proposições do Ministério da Agricultura com a Portaria de oito de julho, por força de Legislação Federal, vinculam os drones a conceitos e visões de mercado de pulverização agrícola de mais de meio século atrás, mais precisamente da década de 1960. Fazer isso em tempos de Tecnologias 4.0, Internet das Coisas, Inteligência Artificial, Plataformas de Serviços, em tempos de AgriTechs, é deixar de olhar para o futuro.

Fazer isso em tempos em que a agricultura brasileira é o que temos de mais sólido em nossa economia é enterrar algumas das melhores chances de inovação no Brasil. Trata-se de uma ação desastrosa para uma nação que há anos busca a modernização do Estado e a desburocratização das suas relações para com seus cidadãos.

E quem perde com isso? Perdem os consumidores, que não terão seus alimentos tratados com o que tem de mais moderno em tecnologia; perdem os produtores rurais brasileiros, principalmente os pequenos, que não terão acesso a serviços e tecnologias modernas; perdem os 23.034 prestadores de serviços com drones hoje registrados na Agência Nacional de Aviação Civil, que verão sua possibilidade de contribuição para com a sociedade acabada em meio à burocracia e controle estatal; perde a cadeia de valor da agricultura brasileira, com centenas de milhares de representantes, distribuidores e consultores, que terão inviabilizado o desenvolvimento de novos modelos de negócios impulsionados por modernas tecnologias; perde a indústria de tecnologia brasileira, que não ganhará escala, que passará para o posto de observadora de grandes empresas globais assumindo a liderança do setor de Drones Agrícolas. Por fim, perde a nação uma oportunidade de se modernizar.

E quem ganha com isso? Talvez ninguém. Sequer os países concorrentes, sequer outras cadeias de valor estrangeiras. Pois eles deixarão de ter alguém para seguir. Perderão a liderança que o Brasil poderia representar no mundo.

Fonte; Agrolink

Artigo enviado por Nei Salis Brasil Neto,  CEO da VOA

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