O melhor lugar para o cocho de suplementos

Na produção de bovino a pasto, a posição do cocho de suplementação influi no comportamento animal, ou seja, no ganho de peso.

Conhecer as exigências nutricionais dos bovinos é essencial para o seu correto manejo alimentar. Mas, além da qualidade e quantidade ofertada, é importante para a boa produção que os animais consumam quantidades uniformes de suplemento, e para isso é preciso entender o seu comportamento e as razões das alterações no consumo. A maneira como os suplementos são oferecidos e utilizados pelos animais deve ser levado em conta, ao se buscar a excelência na produção animal.

Cochos móveis reduzem a degradação ambiental e a formação de lama

As relações comportamentais entre indivíduos e grupos podem causar diferenças no consumo estipulado para o suplemento, gerando impactos de diversa intensidade na produção. Animais dominantes, por exemplo, podem consumir maiores quantidades de suplemento e impedir que outros ingiram os níveis desejados. Nos grupos de manejo formados dentro de uma fazenda, os processos de socialização ocorrem a custos significativos para indivíduos e para o lote. Geralmente, o aumento da agressão e do consequente estresse social ocasiona efeitos diretos sobre o consumo de alimentos e ganho de peso.

O fato de os bovinos terem as suas atividades sincronizadas provoca um aumento na competição por recursos, principalmente quando são escassos, levando a uma intensificação das interações agressivas (brigas) entre os animais do mesmo grupo, ou rebanho. Além das características individuais do animal que podem influenciar no acesso ao recurso (tamanho, peso, experiências passadas, chifres, etc.), a organização social do grupo, que está diretamente relacionada ao seu tamanho, afeta o número de disputas por determinado recurso (grupos maiores tendem a brigar mais).

Ao contrário do que afirma o senso comum, nem sempre os animais mais agressivos e considerados dominantes são os que passam mais tempo ingerindo o suplemento; geralmente os que o disputam com menor frequência são os que contam com mais tempo de acesso ao cocho. Desse modo, é necessário estabelecer padrões de manejo que proporcionem uma melhor ambiência animal e se revertam em melhor aproveitamento dos recursos oferecidos e em redução de custos para o produtor.

O dimensionamento dos cochos de suplementação é geralmente realizado de forma empírica e inadequada, ao não se levar em conta as características comportamentais. A localização do cocho no pasto, ou piquete, também interfere no seu acesso pelos animais. É o que ocorre, por exemplo, quando é alocado em cantos. Como regra geral, à medida que aumenta o consumo da mistura ofertada, deve- -se também aumentar o espaço disponível para cada indivíduo, sem esquecer de que diferentes suplementos exigem disponibilidades de cocho diferentes.

Em pesquisa realizada pelo ETCO – Grupo de Estudos e Pesquisas em Etologia e Ecologia Animal, verificou-se que, com o aumento da disponibilidade linear de cocho para suplementos, o numero de brigas entre indivíduos do mesmo grupo diminui. Para um suplemento considerado de baixo consumo (300g/dia), quando se dobrou a disponibilidade de espaço (de 4 cm para 8 cm por animal) o número de brigas diminuiu em 52%, enquanto para um suplemento considerado de alto consumo (1000g/dia) o número de brigas caiu para 46% quando dobrada a disponibilidade (de 16 cm para 32 cm por animal).

Com o aumento da disponibilidade linear de cocho, diminuem as brigas entre os animais.

Entretanto, essa proporção não ocorreu quando o comprimento de cocho foi aumentado novamente. Um resultado inesperado, mas muito interessante foi que, independentemente do espaço ofertado, em todas as situações 30% dos animais não acessavam o cocho em momento algum. Esse fator pode explicar diretamente a ocorrência de animais cabeceira e fundo, uma vez que existe essa variação na ingestão do alimento. As diferenças em ganho de peso vão existir por diversos fatores e um deles, justamente, é que existem animais que têm medo de se aproximar do cocho, por temor de apanhar de outros, ou não se aproximam porque não se adaptam ao suplemento. Caso o seu consumo seja muito importante (por exemplo, para a ingestão de alguns medicamentos via suplemento, como mosquicidas) esse fator deve ser levado em conta. Dependendo da intensidade do medo, uma mudança de lote pode ser recomendada, antes do descarte…

A pesquisa mostrou também que dimensionar o cocho para que o consumo seja realizado simultaneamente pelos dois lados pode ocasionar erros de manejo. Os bovinos dificilmente acessam o cocho de frente um para o outro – cabeça a cabeça; eles o fazem sempre de maneira intercalada. Assim, é preciso pensar em cochos mais largos, ou em instalar uma barreira física entre os lados opostos.

Quanto ao ambiente da pastagem como um todo, outra medida que auxilia a reduzir a degradação ambiental em volta do cocho, por pisoteio e formação de lama, é a utilização de cochos móveis. No caso de lotes de até 50 cabeças, o cocho feito de tambores plásticos é de custo reduzido e de fácil deslocamento. Recomenda-se deslocá-lo poucos metros (de doze a vinte) por semana, a partir do ponto de origem; assim diminui-se o risco de os responsáveis não executarem o deslocamento, por se tratar da introdução no dia-a-dia de mais um manejo.

Para atenuar os efeitos das condições climáticas, recomenda-se aumentar a frequência de abastecimento do suplemento e deixar o produto no pasto. Assim, o próprio vaqueiro, durante o rodeio do gado, pode efetuar a reposição. Uma boa ideia adotada pela Fazenda Mundo Novo, em Uberaba, MG, é a utilização de bombonas plásticas com tampas de rosca para armazenamento de sacos de sal mineral, ou suplemento, deixados ao lado do cocho e protegidos da chuva e do vento.

Ao se introduzir a rotina de acompanhamento do consumo, é importante instruir a equipe a observar por alguns minutos o comportamento do grupo de animais, para identificar antecipadamente os mais problemáticos, seja por brigarem demais, seja por terem dificuldades de acesso ao cocho. Quanto mais cedo isso ocorrer, maiores serão as chances de se reduzirem as despesas e as diferenças produtivas entre os animais de um mesmo grupo.

Por Adriano Gomes Páscoa

Zootecnista, doutor em produção animal pela UNESP Jaboticabal, integrante o Grupo ETCO e sócio da BEA Consultoria e Treinamento, de Jaboticabal, SP

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