SUL DE MINAS Mesmo com apenas 5% do volume produzido no estado, Sul de Minas já é a nova ‘fronteira’ da soja, diz Embrapa

Embora a produção de soja no Sul de Minas represente apenas 5% do total produzido no estado, a produção do grão vem ganhando cada vez mais espaço na região. Por ser uma cultura de rotação, que pode ser revezada com o milho, a soja ganha cada vez mais terreno e começa a virar prioridade em algumas propriedades. O município de Delfinópolis (MG), por exemplo, já é o maior produtor da região. Para a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o Sul de Minas é a nova “fronteira da soja no estado”.

Esta reportagem faz parte da série “Além Café”, produzida pelo G1 Sul de Minas, que mostra as apostas dos produtores em outras culturas na região, além do tradicional café. As reportagens apresentam exemplos como a olivicultura, a vinicultura, o crescimento da soja e os desafios do mercado da batata. A série também relembra reportagens da EPTV, afiliada Rede Globo, sobre as demais produções que movimentam a economia no Sul de Minas.

Hoje o Sul de Minas produz 278,2 mil toneladas de soja, número que ainda é muito distante de produções de outras regiões de Minas Gerais. O Noroeste, por exemplo, é responsável por uma produção de 1,8 milhão de toneladas, ficando pouco à frente do Triângulo, que produz 1,6 milhão de toneladas. O Alto Paranaíba, com produção de 1 milhão de toneladas é a terceira região que mais produz o grão.

Sul de Minas vem se tornando a nova “fronteira” da soja, segundo a Embrapa — Foto: Arquivo Pessoal / Fuad Felipe

Delfinópolis, o maior produtor do Sul de Minas, é responsável por 33,9 mil toneladas. Nada que chegue perto de municípios como Unaí, Paracatu e Buritis, cuja produção varia de 240 mil a 341 mil toneladas. Hoje o município ocupa apenas a 34ª posição no ranking estadual. A Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais, Seapa, não tem números específicos para o Sul de Minas, mas nos últimos 10 anos, a área plantada de soja aumentou 69,9% em todo o estado e a produção 90,8%.

Expansão a partir do milho

A adoção da soja como cultura regular pode ser explicada pela necessidade de se encontrar uma cultura que fosse alternativa ao milho. Segundo o pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Roberto Zito, a soja veio contribuir para melhorar inclusive a produtividade de quem já investia no milho.

“A cadeia produtiva do milho é muito interessante porque boa parte da colheita é mecanizada e as máquinas e implementos utilizados na cultura do milho são praticamente as mesmas utilizadas na soja. Alguns produtores pioneiros começam a fazer soja na região na busca de uma alternativa de lucratividade. Eles perceberam que além da produtividade, esse esquema de rotação entre milho e soja aumentava a produtividade do milho, que já era a cultura tradicional. A rotação de culturas, que é uma técnica de manejo indicada, altamente desejável, era uma coisa que não vinha sendo feita e a partir do momento em que a novidade soja chegou, passou a ser adotada”, explica o pesquisador.

Ainda conforme o pesquisador da Embrapa, a soja veio trazer mais uma opção de rentabilidade para o produtor.

“A cadeia produtiva do milho estava pronta e a da soja praticamente estava pronta também. Então a conjuntura favoreceu muito, tanto do ponto de vista operacional do produtor, que tinha os meios de produção para produzir milho e portanto tinha os meios de produção para produzir soja, quanto na parte de manejo e lucratividade, porque passou a ter mais uma opção”.

Roberto Zito faz um paralelo com o que acontecia antes da década de 1990, quando, sem ter uma produção adequada do produto, produtores de suínos e aves, por exemplo, tinham que se juntar para buscar em outras regiões a soja que serviria de fonte de proteína para as criações.

“A demanda da soja já existia e a partir do momento que passou a ser produzida inloco, esse problema de fonte distante da matéria-prima passou a diminuir. Tanto assim que no início, nos anos 90, sequer existia silo para estocar a soja no Sul de Minas e hoje já há uma cadeia relativamente organizada”, explica.

“É uma cultura importante para o estado e particularmente para o Sul de Minas, é uma cultura que ainda vai dar mais boas contribuições”

“É uma região tradicionalmente produtora de milho e interessa para os produtores fazerem uma rotação de cultura, introduzir a soja com o desenvolvimento de várias variedades precoces. Muitos produtores estão plantando a soja e fazendo o cultivo do milho safrinha. O Sul de Minas é uma região tradicionalmente produtora de milho, os produtores já têm um nível de tecnologia, equipamentos para a produção de milho e vendo essa possibilidade de mercado mais atrativo, vendo a questão da rotação de culturas, o Sul de Minas passa a ser uma região que tem uma tendência muito forte para o crescimento da soja”, diz o superintendente de Abastecimento e Economia Agrícola do Governo de Minas, João Ricardo Albanez.

Diversificação para sobrevivência

A trajetória da soja em Delfinópolis, hoje o maior produtor da região, tem relação direta com a necessidade de diversificar para sobreviver. Sem poder contar o café, que não se adaptou ao clima quente e às baixas altitudes do município, o jeito foi buscar outras culturas que se adaptassem e trouxessem rentabilidade para o produtor.

“A nossa soja, somos o maior produtor, é uma soja adiantadíssima, nossos produtores não perdem em nada para os produtores do Mato Grosso, em equipamentos, colhedeiras que só faltam voar, GPS e a cultura da banana, que foi uma coisa que aconteceu a partir da crise do café, de 1992 e 1993, porque a gente estava procurando alternativas, já que o café estava muito ruim. Começamos bem devagarinho e no final, hoje somos um dos grandes produtores de banana do Estado de Minas Gerais”, disse o engenheiro agrônomo da Emater, Sávio Marinho.

“A crise do café deu aquele start, aquele começo. Mas a partir daí, não. Muita gente que mexe com banana hoje não tem nada a ver com café. O café foi responsável por a gente procurar por isso naquele comecinho”
Segundo o engenheiro agrônomo da Emater, apesar de ter sido introduzida no município na década de 1990, a expansão da soja em Delfinópolis se deu de fato a partir de 2003.

“Em 2003, ela pulou de 300 para 1,5 mil hectares. Hoje parece que se estabeleceu em um teto de 9 mil hectares, até porque é difícil passar disso pela dificuldade de se achar novas terras. Isso é muito para o Sul de Minas. Mas se você for pegar Uberaba e Uberlândia, isso é um cisco. A soja está crescendo muito no Sul de Minas, mas uma área como o município de Sorriso (MT), que tem 600 mil hectares (de soja), uma área dessa não existe”.

“No Brasil todo, se você pegar o histórico da soja, a produção nos últimos 10, 15 anos, aumentou barbaridade. Vai ficando difícil aumentar mais devido à falta de terras, preço, arrendamento, apesar da soja ser um bom negócio. Ela é o primeiro produto da pauta brasileira, a produção é de 100 milhões de toneladas, ela vale R$ 120 bilhões. O café vale R$ 20 bilhões para você ter uma ideia. O valor da soja vale seis vezes o do café”

Números da soja:

  • O Brasil é o 2º maior produtor mundial de soja com 116,9 milhões de toneladas. Só perde para os Estados Unidos, que produz 119,5 milhões de toneladas.
  • O Mato Grosso é o maior produtor brasileiro de soja, com 31,8 milhões de toneladas.
  • Em 2017, 59 milhões de toneladas foram destinadas ao consumo interno brasileiro e o restante foi exportado para outros países.

Soja após experiências frustradas

Um dos maiores produtores de soja de Delfinópolis atualmente, o agricultor Fuad Felipe é responsável pela produção de cerca de 3 mil toneladas e uma área plantada de 700 hectares na “safra de verão”. A opção pela soja se deu após cerca de 40 anos de tentativas com o café e a cana de açucar.

“Entre os anos de 1990 e 2000, a fazenda contava com 1 milhão de pés de café e cerca de 2 mil vacas nelores, além de vacas leiteiras. A partir do ano 2000, em razão do preço baixo do café e da dificuldade em fazer café de bebida boa, resolvemos partir para a cana de açucar, que era fornecida para a única usina da região, em Passos. Nos idos de 2011, a usina que recebia a produção de cana de açucar parou de pagar pelo produto entregue, nos forçando a buscar uma outra opção. Após estudos, chegou-se à conclusão de que a soja seria a melhor saída”, disse o produtor ao G1.

O produtor Fuad Felipe ainda manteve 200 mil pés de café, mas teve que partir para as produções de cana e soja — Foto: Arquivo Pessoal / Fuad Felipe

Após a colheita da soja, a mesma área recebe o plantio do milho e o sorgo, na chamada “safrinha”. A produção é depositada nos silos da região e vendida para empresas que operam na região.

Hoje a fazenda manteve cerca de 200 mil pés de cafés e recentemente plantou cerca de 52 mil covas de bananas, visando diversificar a produção e não ficar na mão de um só produto, sofrendo com as baixas de preços.

“Acreditamos que a soja sempre terá seu lugar na região, uma vez que a qualidade das terras e a média das chuvas contribui para uma boa produção, bem como o fato de ser uma lavoura de ciclo curto, se comparada com o café, possibilitando ainda o plantio das ‘safrinhas’. Por outro lado, em locais com facilidade para captação de água, o que se vê é um avanço da cultura da banana”, completa o produtor.

REPOST: G1

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